A DIGITALIZAÇÃO DO TERRITÓRIO E O EXTRATIVISMO URBANO: A ATUAÇÃO DA WORLDCOIN NAS PERIFERIAS DE SÃO PAULO
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Este artigo discute criticamente a atuação da Worldcoin em São Paulo, tomando como lente analítica o conceito de extrativismo urbano. O objetivo central é compreender como a coleta biométrica de íris, apresentada como inovação tecnológica e inclusão financeira, opera em contextos de vulnerabilidade e informalidade. A pesquisa adota abordagem teórico-conceitual situada na Geografia Urbana, dialogando com autores como Milton Santos, Mónica Arroyo, Gilberto Cunha Franca, Verónica Gago e Sandro Mezzadra, Sérgio Amadeu da Silveira e Shoshana Zuboff. Metodologicamente, mobiliza revisão bibliográfica interdisciplinar, análise documental de reportagens e comunicados institucionais, além de cartografia exploratória com três mapas: localização dos hubs da empresa, sobreposição com o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS/IPEA) e relação com a rede de transporte sobre trilhos. Os resultados apontam que, embora parte dos dispositivos tenha se instalado em áreas populares, a territorialização esteve fortemente associada a locais de grande circulação, como estações de metrô e trem, onde filas se formaram mediante promessa de pagamentos em criptomoeda. A análise das matérias mais recentes, incluindo a suspensão da empresa pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), evidencia que a vulnerabilidade não desaparece, mas se articula às infraestruturas urbanas como engrenagem da extração algorítmica. Conclui-se que o caso Worldcoin deve ser interpretado como expressão de um regime contemporâneo de despossessão digital e colonialismo de dados, no qual corpos e territórios são funcionalizados como ativos financeiros no capitalismo de plataforma.