Miguel Reale: O "Croce brasileiro"?
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Analogamente à atuação do filósofo Benedetto Croce na Itália, o jurista Miguel Reale cumpriu papel importante entre intelectuais brasileiros: partiu do socialismo revisionista para o conservadorismo liberal, organizou grupos intelectuais a partir de ambientes acadêmicos e complementares e, após sua experiência integralista entre 1932 e 1938, rompeu com o fascismo histórico – todas estas manifestações da importância do primeiro sobre o segundo. Por outro lado, a adesão ao autoritarismo, sua ampla participação na política institucionalizada e nos partidos de massa, e a particular condição de “jurista” fazem Reale destoar da atitude crociana. A pesquisa retoma estas relações como tradução e refração de um pensamento político, explorando limites comparativos e a originalidade de Reale enquanto intelectual tradicional com funções orgânicas. Argumenta-se que o Instituto Brasileiro de Filosofia, fundado por ele em 1949, cumpriu a função de aparelho cultural de hegemonia na luta política, recrutando adversários e preparando quadros intelectuais para a emergência de novos conservadorismos. A pesquisa é baseada em análise empírica da documentação do período que compreende suas primeiras obras, na fase integralista (1933-1938), sua produção acadêmica e atuação política durante o Estado Novo (1937-1945) e no governo estadual de São Paulo, sob o comando de Adhemar de Barros (1947-1951), sua primeira passagem como reitor da Universidade de São Paulo (USP)(1949), os anais do I Congresso Brasileiro de Filosofia (1950) e a Revista Brasileira de Filosofia (1951-2021).