Experiências de socialização de jovens atingidos pelo rompimento da Barragem de Fundão (Mariana, Minas Gerais, Brasil)
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No dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da Barragem de Fundão, operada pela Samarco Mineração e por suas controladoras, Vale e BHP, em Mariana-MG, representou o início de um desastre sem precedentes na história brasileira. Neste artigo, analisamos como foram afetados os processos de socialização de jovens dos subdistritos de Bento Rodrigues, Paracatu de Baixo e Camargos matriculados no Ensino Médio em escolas de Mariana-MG e Ouro Preto-MG. Teoricamente, o estudo se referenciou na Sociologia da Educação, na Sociologia das Juventudes e na Sociologia dos Desastres. A pesquisa foi realizada por meio de análise bibliográfica, documental e trabalho de campo, a partir de 12 entrevistas interpretadas com perfis de configuração. Constatou-se que os laços de amizade que os entrevistados mantinham nos territórios de origem foram fragilizados. Após a chegada à juventude e o ingresso no Ensino Médio, criaram novos vínculos, acessaram mais as redes sociais digitais, começaram a projetar seus futuros e suas famílias continuaram sendo uma base importante. A pandemia de COVID-19 desorganizou seus laços de sociabilidade, aumentou as interações digitais e piorou sua condição mental. Eles tiveram de conviver com preconceito e estigmatização. Para se preservarem, muitos se isolavam e não contavam que eram pessoas atingidas. Os resultados da pesquisa demonstraram que as experiências socializadoras desses jovens estavam ocorrendo em um contexto complexo e traumático que impactava negativamente suas formas de ser e estar no mundo.